(Foto: Cido Marques)
Tradição trazida por povos eslavos e preservada por descendentes na capital paranaense, as pêssankas são ovos decorados à mão com símbolos de fé, esperança e renovação.
Em meio à comercialização de ovos de chocolate e coelhos, Curitiba celebra uma outra faceta da Páscoa: a das pêssankas. Essa tradição, trazida pelos povos eslavos e diligentemente preservada por gerações de descendentes ucranianos estabelecidos na capital paranaense desde o final do século XIX, consiste na arte de decorar ovos à mão com intrincados símbolos de fé, esperança e renovação. A arte de colorir ovos pascais (“pêssanky”) é ancestral, anterior ao Cristianismo, mas com a chegada da fé cristã, passou a incorporar o simbolismo da ressurreição de Cristo, reafirmando valores de renascimento e prosperidade.
Paciência, devoção e técnica
A criação das pêssankas exige paciência e devoção, sendo carregada de significados espirituais e uma história que remonta à antiga Ucrânia. A técnica envolve desenhar com cera sobre a casca do ovo cru e, em seguida, imergi-lo em banhos sucessivos de tinta, protegendo cada cor com novas camadas de cera. O processo geralmente vai do mais claro para o mais escuro. Ao final, a cera é removida com calor, revelando um mosaico de cores e símbolos. O artista curitibano Jorge Serathiuk, dedicado a essa arte há 46 anos, explica: “A pêssanka é, na verdade, uma mensagem”. Ele, junto com a esposa Iara, manteve a tradição viva, transformando-a em fonte de renda e reconhecimento cultural, inclusive internacionalmente. Existem variações na técnica, como o uso de vinagre para corroer a casca do ovo. Após a pintura, o conteúdo do ovo é removido, a peça é envernizada e o interior pode ser preenchido com gesso.
Cultura renascida e preservada
Durante a era soviética, a arte das pêssankas foi proibida como forma de suprimir as culturas das repúblicas anexadas. Jorge Serathiuk relembra esse período e conta que, após a independência da Ucrânia em 1992, foi convidado a ensinar a técnica no país de origem de seus antepassados, pois muitos que sabiam a arte já haviam falecido. Em Curitiba, Jorge e Iara já produziam pêssankas desde a década de 1980, ganhando reconhecimento após exposições e recebendo prêmios internacionais, como o “Ovo de Ouro” na Suíça em 1986. Hoje, as pêssankas são vendidas em ateliês e feiras, carregando a dedicação do artista e um forte laço com o passado e a cultura ucraniana.
Memorial Ucraniano: tradição encontra a cidade
Um dos principais locais de valorização da cultura ucraniana em Curitiba é o Memorial Ucraniano, situado no Parque Tingui. O local abriga painéis que retratam a riqueza espiritual e artística dos imigrantes e é um ponto de visitação e celebração. Neste sábado, Véspera de Páscoa, a comunidade ucraniana de Curitiba realiza no Memorial a tradicional benção dos alimentos. O Memorial é uma réplica da Igreja de São Miguel em Mallet, município paranaense que recebeu os primeiros imigrantes ucranianos. Na área externa, destaca-se uma réplica gigante de pêssanka feita de bronze, idealizada por Jorge Serathiuk. Além do Memorial, a Sociedade Ucraniana do Brasil e a Sociedade Poltava também promovem a cultura e as tradições ucranianas na cidade, reforçando a união da comunidade em Curitiba, que representa cerca de um terço dos descendentes ucranianos no Paraná.
Simbologia das Pêssankas
Os desenhos e as cores utilizados na confecção das pêssankas possuem significados específicos. Pássaros simbolizam boa fertilidade e proteção, peixes representam o cristianismo, estrelas remetem a longa vida, esperança e luz, enquanto flores simbolizam amor e caridade. As cores também têm simbologia: o amarelo representa sabedoria, o vermelho vitalidade, e o branco, cor primária na confecção, significa pureza.
Agência Notícias da Prefeitura de Curitiba