Mais ganhos ou mais dependência? entregadores questionam pacote de “valorização” do iFood

Mais Ganhos ou Mais Dependência? Entregadores Questionam Pacote de "Valorização" do iFood

(Foto: Divulgação/iFood)

Mais ganhos ou mais dependência? entregadores questionam pacote de “valorização” do iFood


Plataforma oferece pagamentos diários e ganhos extras, enquanto representantes da categoria temem que novas regras aumentem a precarização e a dependência dos trabalhadores em um debate que afeta milhares no Paraná.

Diante de um universo de mais de 120 milhões de pedidos mensais, o iFood, maior plataforma de delivery do país, anunciou na última semana um novo pacote de benefícios para seus entregadores. A principal novidade é o programa “Super Entregadores”, que, segundo a empresa, visa premiar os profissionais “que se destacam na operação”. A promessa inclui bônus anuais que podem chegar a R$ 3 mil e um aumento de até 30% nos ganhos para os mais “engajados”.

Além do bônus, a plataforma agora oferece a antecipação de pagamentos. “Hoje, o entregador recebe semanalmente, toda quarta-feira. Agora, ele vai decidir o momento que ele quer receber”, explicou Johnny Borges, diretor de impacto social do iFood. Ele afirma que o ganho bruto médio por hora na plataforma foi de R$ 28 em 2024 e que a maioria (90%) dos entregadores atua em jornadas de cerca de 20 horas semanais.

A visão dos entregadores: “uma armadilha?

Apesar das promessas, a notícia foi recebida com ceticismo. Alessandro Sorriso, presidente da Associação dos Motofretistas do DF, vê o pacote como uma “armadilha” para reter a mão de obra. “Eles estão vendo a concorrência vir em peso e querem, de alguma forma, segurar os motoboys”, avalia. Para ele, o sistema de bônus forçará os trabalhadores a não recusarem entregas e a cumprirem longas jornadas em fins de semana e feriados para atingir as metas, o que aumentaria a dependência da plataforma.

A percepção é compartilhada por Rodrigo Lopes Correia, presidente do sindicato da categoria em Pernambuco. Ex-gari, ele trabalha há cinco anos como entregador para sustentar os dois filhos e, mesmo rodando mais de 10 horas por dia, afirma que seu ganho líquido, após descontar os custos com a moto, é de cerca de R$ 1,5 mil. Para ele, as mudanças anunciadas são uma resposta direta à mobilização dos trabalhadores, como a greve nacional realizada em abril.

Mais Ganhos ou Mais Dependência? Entregadores Questionam Pacote de "Valorização" do iFood
(Foto: Alessandro Sorriso)

Empreendedor ou trabalhador? O debate sobre a precarização

Para especialistas, a discussão vai além dos benefícios e toca na própria natureza da relação de trabalho. O professor de direito da Universidade de Brasília (UnB), Antônio Sérgio Escrivão Filho, critica o discurso de “empreendedorismo”. “Os entregadores têm a oferecer a sua mão de obra. Eles não têm a possibilidade de interferir nas regras do contrato, de definir o valor da sua remuneração ou de conhecer as regras que montam os algoritmos”, explica.

O pesquisador ressalta que a realidade se assemelha a um trabalho subordinado, mas sem os direitos básicos garantidos pela CLT, como férias remuneradas, 13º salário e contribuição para a previdência social, o que deixa esses profissionais desamparados em caso de acidentes ou na velhice.

Riscos e recompensas: a realidade nas ruas

A segurança é outro ponto crítico. Rodrigo Lopes, por exemplo, já sofreu seis acidentes de moto. O iFood afirma que possui um programa de prevenção e oferece o “melhor seguro da categoria”, com uma apólice de R$ 120 mil em caso de morte.

Apesar dos riscos e da precarização, para muitos, o trabalho por aplicativo ainda representa uma alternativa melhor. É o caso de Vanderson Amorim, que entrega de bicicleta motorizada no DF. Demitido de uma padaria onde ganhava um salário mínimo, ele viu no aplicativo uma chance de aumentar sua renda. “Eu vi que é possível ganhar R$ 800 em uma semana. Antes, eu ganhava um salário mínimo, e sem direito a comer nada das vitrines”, recorda. A história dele ilustra a complexidade de um setor que oferece autonomia e maior potencial de ganho, mas cobra um preço alto em segurança e direitos.

Com informações de Agência Brasil


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