(Foto: Divulgação SESP-PR)
Megaoperação no centro de Curitiba desarticula quadrilha que controlava o tráfico com “mão de ferro”
Com 66 presos, incluindo o líder ligado a 9 homicídios, ação conjunta da PCPR e PMPR expõe estrutura de facção que movimentava R$ 20 mil por semana em cada ponto de venda.
Uma megaoperação denominada “Marco Zero III” foi deflagrada na manhã desta quarta-feira (25) para desarticular uma organização criminosa que controlava o tráfico de drogas na região central de Curitiba. A ação, fruto de uma investigação de quase um ano, mobilizou cerca de 400 policiais da Polícia Civil (PCPR), Polícia Militar (PMPR) e Polícia Penal (PPPR). Até o momento, 66 pessoas foram presas, incluindo o líder do grupo, e foram cumpridos 55 mandados de busca e apreensão e 25 de bloqueio de ativos financeiros.
A investigação: da denúncia anônima ao mapeamento da rede
O trabalho que culminou na operação de hoje começou em agosto de 2024. A investigação foi iniciada pela Polícia Civil após o recebimento de denúncias anônimas e a constatação de um aumento nas ocorrências de crimes na região central.
Durante meses de monitoramento e trabalho de inteligência, as equipes registraram diversos flagrantes de tráfico em menor escala. Essas prisões foram fundamentais para mapear a rede, entender a hierarquia do grupo e confirmar a atuação constante da organização, mesmo quando alguns de seus membros eram presos.
Uma “empresa do crime”: hierarquia, metas e violência
A investigação revelou que o grupo operava como uma verdadeira empresa, com uma estrutura hierárquica bem definida. Havia lideranças, gerentes, operadores logísticos e dezenas de vendedores que atuavam em turnos, principalmente na Praça Tiradentes e na Rua Trajano Reis.
“Os criminosos atuavam com divisão de tarefas, sendo que haviam aqueles dedicados apenas às atividades financeiras e outros, na base da pirâmide, que faziam a venda direta”, explica o delegado Victor Loureiro. Para dificultar a ação policial, eles usavam códigos e escondiam pequenas porções de drogas em bueiros, canos e até na própria boca.

Lavagem de dinheiro e o falso auxílio social
Além do tráfico, a quadrilha mantinha um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro para ocultar os lucros. As investigações financeiras revelaram movimentações de altos valores, incompatíveis com a renda declarada pelos investigados. Um detalhe que chamou a atenção da polícia foi que parte dos envolvidos no esquema, utilizados como “laranjas” para movimentar o dinheiro, era beneficiária de programas sociais do governo. Essa tática era usada para tentar dissimular a origem ilícita dos lucros obtidos com o crime.
O domínio pelo medo: a conexão com homicídios
O controle territorial da organização era mantido com extrema violência. Segundo o delegado Rodrigo Brown, chefe do COPE, o líder do grupo preso hoje tem envolvimento em pelo menos nove homicídios. Um dos casos investigados é a morte de um homem em fevereiro, que teria sido uma retaliação após ele expor a atuação do grupo a uma equipe de reportagem. O poder financeiro da quadrilha era imenso, com cada ponto de venda movimentando cerca de R$ 20 mil por semana, e o dinheiro era usado para manter o domínio da facção na região.