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China e UE restringem frango do Brasil por 60 dias após foco de gripe aviária no Rio Grande do Sul
Medida, inicialmente por 60 dias, foi tomada após detecção de caso em matrizeiro no Rio Grande do Sul. Brasil é o maior exportador mundial e Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul concentram 78% das exportações.
Importantes mercados para a carne de frango brasileira, a China, a União Europeia (UE) e a Argentina anunciaram nesta sexta-feira (16) a suspensão das importações do produto do Brasil. A medida, inicialmente prevista para durar 60 dias, foi motivada pela confirmação, pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), da detecção de um caso de vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) em um matrizeiro de aves comerciais localizado no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul.
Apesar de o foco da doença estar regionalizado em uma propriedade específica no Rio Grande do Sul, as restrições impostas pela China e pelo bloco europeu abrangem, neste primeiro momento, todo o território nacional. Essa amplitude se deve às exigências sanitárias presentes nos acordos comerciais que esses grandes compradores mantêm com o Brasil.
Impacto nos principais destinos
A China é o principal destino da carne de frango brasileira, respondendo por uma parcela significativa das exportações. Em 2024, o país asiático importou 562,2 mil toneladas, o que representou cerca de 10,8% do total exportado pelo Brasil. A União Europeia, por sua vez, figura como o sétimo principal mercado para o produto nacional, com mais de 231,8 mil toneladas comercializadas no ano passado, correspondendo a 4,49% do total. Os dados são da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
No caso da Argentina, embora o volume de importação de carne de frango brasileira não esteja entre os maiores, o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar (Senasa) do país vizinho optou por suspender preventivamente as importações de produtos e subprodutos avícolas brasileiros que dependem da certificação de que o Brasil está livre da gripe aviária de alta patogenicidade.
O governo argentino informou que está intensificando medidas de biossegurança e vigilância sanitária em seus estabelecimentos avícolas, considerando que o foco da gripe aviária no Rio Grande do Sul ocorreu a aproximadamente 620 quilômetros de sua fronteira.
Posicionamento do mapa e regionalização
Em nota, o Ministério da Agricultura e Pecuária afirmou que seguirá o que está previsto nos acordos comerciais vigentes com os países parceiros. “Reafirmando o compromisso de transparência e de responsabilidade com a qualidade e sanidade dos produtos exportados pelo Brasil, as restrições de exportação seguirão fielmente os acordos sanitários realizados com nossos parceiros comerciais”, informou a pasta.
O Mapa destacou que tem trabalhado ativamente nas negociações de acordos sanitários internacionais para que os países parceiros reconheçam o princípio de regionalização, preconizado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). O princípio de regionalização permite que as restrições à exportação sejam limitadas a uma área de 10 quilômetros de raio do foco da doença, evitando paralisações em todo o território nacional. No entanto, o próprio Ministério pondera que os países importadores podem adotar diferentes critérios de regionalização, variando entre restrições mais locais ou mais amplas.
Países como Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Filipinas, por exemplo, já aprovaram o princípio de regionalização para IAAP em seus acordos com o Brasil. A expectativa é que isso ajude a evitar um impacto muito generalizado nas exportações para esses mercados. Após a China, esses cinco países estão entre os maiores compradores da carne de frango brasileira, representando, juntos, 35,4% do total exportado em 2024, segundo dados da ABPA.

Brasil: maior exportador mundial e concentração no sul
O Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo. Em 2024, o país vendeu 5,2 milhões de toneladas do produto, em diversos formatos, para 151 países, gerando receitas de US$ 9,9 bilhões. Mais de 35,3% de toda a carne de frango produzida no Brasil é destinada ao mercado externo. A produção e exportação de carne de frango brasileira é fortemente concentrada na região Sul do país: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul respondem por 78% dessas exportações.
No ano passado, o setor avícola brasileiro já havia lidado com a detecção de um foco da doença de Newcastle (DNC), que afeta aves silvestres e comerciais, também no Rio Grande do Sul. Naquela ocasião, após a rápida adoção de medidas sanitárias, o Ministério da Agricultura e Pecuária comunicou à Organização Mundial de Saúde Animal o fim da doença cerca de 10 dias depois.
Sem risco para o consumo
É importante reiterar a informação já divulgada pelo Mapa: a doença da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) detectada não é transmitida pelo consumo de carne de aves nem de ovos. “A população brasileira e mundial pode se manter tranquila em relação à segurança dos produtos inspecionados, não havendo qualquer restrição ao seu consumo”, garantiu a pasta. O risco de infecções em humanos pelo vírus da gripe aviária é considerado baixo e, na maioria dos casos, ocorre entre pessoas que têm contato intenso e direto com aves infectadas (vivas ou mortas), como tratadores ou profissionais do setor.