Crise diplomática: Paraguai exige explicações do Brasil sobre suposta espionagem da Abin

Itaipu

(Foto: Joedson Alves)

Governo federal brasileiro atribui ação de inteligência à gestão anterior, de Jair Bolsonaro.

O governo do Paraguai elevou o tom das relações diplomáticas com o Brasil nesta terça-feira (1º), cobrando explicações formais sobre uma operação de inteligência conduzida pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A ação teria como objetivo obter informações confidenciais de autoridades paraguaias envolvidas nas delicadas negociações sobre a usina hidrelétrica de Itaipu, uma propriedade binacional estratégica para ambos os países.

Paraguai convoca embaixadores em sinal de descontentamento

Em um comunicado oficial divulgado nesta terça-feira, o Paraguai anunciou a convocação imediata de seu embaixador no Brasil, Juan Manuel Delgadillo, para “consultas”. O objetivo é que o embaixador forneça informações detalhadas sobre a alegada ação de inteligência direcionada a assuntos do governo paraguaio. Em paralelo, o Paraguai também convocou o embaixador do Brasil em Assunção, José Antonio Marcondes, para que apresente esclarecimentos por parte do governo brasileiro sobre a ocorrência. Na linguagem diplomática, a convocação de embaixadores para consultas representa uma demonstração formal de descontentamento entre as nações.

Monitoramento teria ocorrido entre 2022 e 2023

As informações sobre o suposto monitoramento vieram à tona inicialmente através de uma reportagem do site UOL, indicando que a ação de inteligência teria ocorrido entre junho de 2022 e março de 2023.

Brasil atribui espionagem à gestão Bolsonaro

Em uma nota oficial divulgada na segunda-feira (31), o Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty) reconheceu a existência da iniciativa de monitoramento, atribuindo sua origem à gestão anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro. O Itamaraty também assegurou que a operação foi interrompida assim que o atual governo, liderado pelo presidente Lula, tomou conhecimento dos fatos.

Negociações sobre Itaipu são congeladas pelo Paraguai

Em uma demonstração clara do impacto da crise, o governo paraguaio anunciou o congelamento das negociações em torno da revisão do Anexo C do Tratado de Itaipu. Este anexo é crucial, pois trata dos valores da energia excedente gerada pela usina e vendida pelo Paraguai ao Brasil. Os dois países têm mantido divergências em relação a esses reajustes tarifários.

Itamaraty desmente envolvimento do governo Lula

A decisão do Paraguai foi tomada um dia após o Itamaraty emitir uma nota oficial negando qualquer envolvimento do atual governo brasileiro na suposta ação de inteligência contra o país vizinho. “O governo do Presidente Lula desmente categoricamente qualquer envolvimento em ação de inteligência, noticiada hoje, contra o Paraguai, país membro do Mercosul com o qual o Brasil mantém relações históricas e uma estreita parceria. A citada operação foi autorizada pelo governo anterior, em junho de 2022, e tornada sem efeito pelo diretor interino da Abin em 27 de março de 2023, tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato”, afirma a nota.

O Itamaraty também esclareceu que o atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, estava em processo de aprovação no Senado Federal durante o período em que a ação foi interrompida, assumindo o cargo de forma definitiva apenas em 29 de maio de 2023. Ele era o diretor interino da agência quando a operação foi encerrada, cerca de dois meses após a posse do novo governo.

“O governo do presidente Lula reitera seu compromisso com o respeito e o diálogo transparente como elementos fundamentais nas relações diplomáticas com o Paraguai e com todos seus parceiros na região e no mundo”, conclui a nota do Itamaraty.

Agência Brasil

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