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País alcançou a 63ª posição em 2025, comparado a 2022, no levantamento da Repórteres Sem Fronteiras (RSF), com pesquisadores indicando um ambiente menos hostil ao jornalismo após o governo Bolsonaro. No cenário global, porém, condições para a imprensa pioraram na maioria dos países.
O Brasil registrou um avanço expressivo no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa de 2025, divulgado pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF), organização não governamental e sem fins lucrativos. O país saltou 47 posições em comparação com o ranking de 2022, alcançando a 63ª posição entre os 180 países avaliados. Segundo os pesquisadores responsáveis pelo estudo, essa melhora está associada a um clima menos hostil ao exercício do jornalismo no Brasil depois da “era Bolsonaro”.
Salto do Brasil no ranking global
O estudo da RSF define a liberdade de imprensa como “a possibilidade efetiva de jornalistas, como indivíduos e como coletivos, selecionarem, produzirem e divulgarem informações de interesse público, independentemente de ingerências políticas, econômicas, legais e sociais, e sem ameaça à sua segurança física e mental”.
Os números brasileiros, que indicam uma melhora significativa, estão entre as poucas exceções no cenário global de 2025. O levantamento aponta que seis em cada dez países avaliados caíram no ranking. Pela primeira vez na história da pesquisa, as condições para o jornalismo são consideradas “ruins” em metade dos países do mundo e “satisfatórias” em menos de um em cada quatro. A pontuação média de todos os países avaliados ficou abaixo de 55 pontos, o que qualifica a situação da liberdade de imprensa no mundo como “difícil”. Segundo a RSF, o ranking é um índice que mede as condições para o livre exercício do jornalismo em 180 países.
O índice é composto por cinco indicadores: político, social, econômico, marco legal e segurança. Com base na pontuação de cada um, é definida a pontuação geral por país. Em 2025, o indicador econômico foi o que mais pesou na avaliação global. Este indicador considera fatores como a concentração da propriedade dos meios de comunicação, a pressão de anunciantes ou financiadores e a ausência, restrição ou atribuição opaca de auxílios públicos.
O fator econômico e a luta pela sobrevivência
A RSF destaca que, globalmente, os meios de comunicação estão divididos entre a garantia da própria independência editorial e a luta pela sobrevivência econômica em um mercado cada vez mais desafiador. Anne Bocandé, diretora editorial da RSF, ressalta a importância crucial da estabilidade financeira para a imprensa livre. “Garantir um espaço de meios de comunicação pluralistas, livres e independentes exige condições financeiras estáveis e transparentes. Sem independência econômica, não há imprensa livre”, afirma Bocandé. Ela acrescenta que “Quando um meio de comunicação está economicamente enfraquecido, ele é arrastado pela corrida por audiência, em detrimento da qualidade, e pode se tornar presa fácil de oligarcas ou de tomadores de decisão pública que o exploram”. Para Bocandé, “A independência financeira é uma condição vital para assegurar uma informação livre, confiável e voltada para o interesse público”.
Cenários em outros países e regiões
A pesquisa da RSF também trouxe destaques negativos em outros países. A Argentina, por exemplo, ocupa a 87ª posição e registrou retrocessos significativos, caindo 47 posições em apenas dois anos. A RSF aponta como motivos as tendências autoritárias do governo do presidente Javier Milei, que teria estigmatizado jornalistas, desmantelado a mídia pública e utilizado a publicidade estatal como instrumento de pressão política.
O Peru (130º) também viu a liberdade de imprensa entrar em colapso, com uma queda de 53 posições desde 2022. Os pesquisadores identificaram assédio judicial, campanhas de desinformação e crescente pressão sobre a mídia independente no país. Os Estados Unidos (57º) são marcados, segundo o levantamento, pelo segundo mandato de Donald Trump, que teria politizado instituições, reduzido o apoio à mídia independente e marginalizado jornalistas. No país, a confiança na mídia está em queda, repórteres enfrentam hostilidade e muitos jornais locais estão desaparecendo, após Trump também ter encerrado o financiamento federal da Agência dos Estados Unidos para a Mídia Global (USAGM).
As regiões do Oriente Médio e Norte da África são consideradas as mais perigosas para o exercício do jornalismo no mundo. A situação de todos os países nessas regiões é considerada “difícil” ou “muito grave”, com a única exceção sendo o Catar (79º). A RSF destaca, com preocupação, o que chama de “massacre do jornalismo em Gaza” pelo exército israelense.
O papel das Big Techs e a concentração da propriedade
A RSF pontua o papel das grandes empresas de tecnologia, as chamadas “big techs”, nos problemas atuais enfrentados pela mídia. A organização afirma que a economia de mídia é minada pelo domínio do GAFAM (Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft) na distribuição de informações. Essas plataformas, muitas vezes não regulamentadas, capturam grande parte das receitas de publicidade que antes sustentavam o jornalismo. Dados de 2024 mostram que o gasto total com publicidade nas redes sociais alcançou US$ 247,3 bilhões, um aumento de 14% em relação a 2023. A RSF aponta que as big techs também contribuem para a proliferação de conteúdos manipulados ou enganosos, piorando os fenômenos de desinformação em escala global.
Outro ponto de grande preocupação para a liberdade de imprensa é a concentração de propriedade dos meios de comunicação, que ameaça diretamente o pluralismo da informação. Segundo a análise dos dados do ranking da RSF, em 46 países, a propriedade dos meios de comunicação está altamente concentrada — ou mesmo totalmente nas mãos do Estado —, limitando a diversidade de vozes e perspectivas.
Agência Brasil