(Foto: Antônio Lucas)
Seca extrema e mudanças climáticas estão entre as principais causas da redução
O número de nascimentos de tartarugas no maior berçário de quelônios do Brasil pode não ultrapassar 350 mil em 2024, segundo dados do Projeto Quelônios da Amazônia (PQA). O volume representa uma redução de 75% em relação ao ano anterior, quando mais de 1,4 milhão de filhotes foram registrados.
Os números alarmantes, divulgados pelo Grupo Energisa com base em informações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), apontam que o atraso no ciclo reprodutivo e no nascimento está ligado a eventos climáticos extremos, incluindo seca recorde, fumaça de queimadas intensas e temperaturas elevadas.
Berçário no Vale do Guaporé
O Vale do Guaporé, em Rondônia, é o maior berçário de quelônios do Brasil e um dos maiores do mundo. Em suas sete praias, divididas entre Brasil e Bolívia, espécies como tartarugas-da-amazônia e tracajás realizam suas desovas.
O Projeto Quelônios do Guaporé, coordenado pelo Ibama e pela Associação Quilombola e Ecológica do Vale do Guaporé (Ecovale), com apoio do Grupo Energisa, atua há 22 anos na proteção desses animais. Além dos quelônios, o projeto também trabalha para preservar aves e lagartos que utilizam as praias como locais de reprodução.
Impactos da crise climática
Entre agosto e outubro de 2024, a região foi intensamente coberta pela fumaça de queimadas, o que desorientou as tartarugas durante a migração para as praias de desova. “A baixa visibilidade e a dificuldade em identificar predadores naturais atrasaram o deslocamento dos animais, desencadeando um efeito cascata no ciclo reprodutivo”, explica José Carratte, biólogo do projeto e supervisor de Meio Ambiente do Grupo Energisa.
A seca extrema também ampliou os bancos de areia do Rio Guaporé, dificultando o trajeto dos filhotes recém-nascidos até o rio. “Essa travessia prolongada aumenta a exposição aos predadores e ao calor intenso, reduzindo as chances de sobrevivência”, destaca César Luiz Guimarães, superintendente do Ibama em Rondônia.
Outro fator agravante foi o atraso nos nascimentos, que coincidiu com o período de chuvas intensas. O rápido aumento no nível dos rios alagou várias praias, afogando centenas de filhotes ainda enterrados nas areias.
Força-tarefa de resgate
Para minimizar as perdas, equipes do projeto organizaram uma força-tarefa para salvar o maior número possível de filhotes. Apenas no último domingo, mais de 200 mil tartarugas-da-amazônia foram resgatadas. Os ninhos foram transportados para cercados seguros, protegendo os filhotes da cheia dos rios e permitindo solturas ordenadas.
Perspectivas e desafios
A redução no número de nascimentos no Vale do Guaporé reflete o impacto da crise climática sobre a biodiversidade da Amazônia. A conservação das tartarugas e de outras espécies nativas exige ações conjuntas e contínuas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e preservar os ecossistemas da região.
Com mais de duas décadas de atuação, o Projeto Quelônios do Guaporé reforça a importância de iniciativas que promovam a proteção da fauna e flora, mas também alerta para a necessidade de medidas mais amplas contra os danos ambientais que afetam todo o planeta.
Com informações de Agência Brasil.