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Supermercados: contrato por hora é chave para preencher vagas e atrair jovens
Durante feira em São Paulo, representantes alegam dificuldade em preencher vagas e que modalidade horista atende à busca dos jovens por maior flexibilidade.
Representantes do setor supermercadista brasileiro manifestaram nesta segunda-feira (12) um posicionamento enfático em defesa do contrato de trabalho por hora, também conhecido como contrato intermitente. O tema surgiu em destaque durante a abertura da Apas Show, uma das maiores feiras de alimentos e bebidas do mundo, que acontece em São Paulo até a próxima quinta-feira (15). Para os supermercadistas, essa modalidade seria uma resposta eficaz à dificuldade que o setor tem enfrentado para contratar e preencher postos de trabalho.
Flexibilidade desejada pelos jovens
Um dos principais argumentos apresentados pelos defensores do contrato por hora é a percepção de que os trabalhadores mais jovens buscam um modelo de trabalho com maior flexibilidade. Erlon Ortega, presidente da Associação Paulista de Supermercados, ilustrou a situação mencionando que, somente no estado de São Paulo, existem atualmente 35 mil vagas abertas no setor, de difícil preenchimento.
“O jovem não quer mais o modelo antigo de trabalho, ele quer mais flexibilidade, mais liberdade”, afirmou. Ortega defendeu a necessidade urgente de discutir o modelo horista com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e ressaltou o papel dos supermercados como “porta de entrada do trabalho formal”. Ele também reiterou a tese de que o setor supermercadista deveria ser classificado como serviço essencial, dada sua importância no abastecimento do país.
A visão da Abras: liberdade de escolha
João Galassi, presidente da Abras, corroborou a defesa do contrato por hora, focando no benefício para o trabalhador. Para ele, a modalidade traria “mais liberdade de escolha” em relação à jornada de trabalho. “O que é melhor para os nossos colaboradores é a liberdade de poder escolher sua jornada de trabalho. Isso só será possível se tiver a liberdade de ser contratado por hora”, opinou.
Galassi argumentou ainda que o setor também seria beneficiado e que os funcionários neste regime continuariam tendo carteira assinada e a possibilidade de remuneração superior, comparando a flexibilidade desejada à dos motoristas de aplicativos de transporte.

Contexto legal e críticas à modalidade
É importante notar que o contrato de trabalho intermitente foi introduzido na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) pela reforma trabalhista de 2017. A constitucionalidade desse regime foi contestada por entidades representativas de diversas categorias, como frentistas, operadores de telemarketing e trabalhadores da indústria.
Essas entidades argumentavam que o contrato por hora favorece a precarização das relações de emprego, pode resultar em pagamentos abaixo do salário mínimo e dificulta a organização coletiva dos trabalhadores. Em 2024, o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou a constitucionalidade do contrato intermitente.
Pesquisa do Ipea aponta precarização
Apesar dos argumentos sobre a flexibilidade, um estudo de 2024 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre as condições de trabalho de motoristas de aplicativo – frequentemente citados como exemplo de flexibilidade – apontou uma tendência de precarização na última década. Segundo a pesquisa, esses trabalhadores enfrentam jornadas mais longas, queda na contribuição previdenciária e redução na renda média (de R$ 3,1 mil para R$ 2,4 mil entre 2012 e 2022). O estudo também mostrou um aumento na proporção de motoristas autônomos trabalhando entre 49 e 60 horas semanais.
O varejo na visão de Alckmin
Presente na Apas Show, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, comentou sobre o desempenho do comércio varejista. Ele estimou que o setor movimentará R$ 16 bilhões neste ano e destacou o crescimento do segmento de supermercados em 2024 (6,5%), superando o PIB nacional (3,4%), classificando-o como um “setor campeão de empregos e renda”. Alckmin também mencionou que a reforma tributária trará “justiça tributária” e que ferramentas como as oferecidas pelo Senai e Sebrae ajudarão mesmo as empresas menores a melhorar seus negócios.