Por Arthur Figueiredo – Cronista sensível, nostálgico e poético.
Outro dia, sentei na varanda com uma xícara de café e a firme intenção de não fazer absolutamente nada. Nenhuma meta, nenhuma produtividade, nenhum artigo pendente para entregar. Só o céu, o cheiro da manhã e o silêncio confortável de um dia comum. Um desses dias em que a gente não precisa resolver o mundo, só existir.
E foi ali, com o tempo esparramado sobre mim feito um cobertor morno, que percebi o quanto temos desaprendido a não fazer. A não reagir, a não render, a não justificar nossa existência com tarefas cumpridas. Estamos viciados em propósito, como se cada segundo precisasse provar que estamos indo para algum lugar.
Mas para onde, afinal?
Vivemos tentando preencher o tempo com alguma coisa — como se ele fosse um balde furado que precisa estar sempre transbordando. E se não está, nos sentimos culpados. Parece que descansar virou defeito, e parar virou fracasso. É uma doença coletiva chamada “ansiedade de relevância”.
Só que o tempo, quando não é controlado, pode virar amigo. E ali, na varanda, sem planos e sem rumo, descobri que o tempo também pode ser companhia — quando deixamos de tratá-lo como inimigo.
A beleza de não fazer nada é essa: ela nos devolve ao que somos, e não ao que entregamos. E talvez, de vez em quando, isso seja tudo o que a gente precisa.