Em Roma, Lula leva luta contra a fome à FAO e ao Papa e critica “guerra de tarifas”

Em Roma, Lula Leva Luta Contra a Fome à FAO e ao Papa e Critica "Guerra de Tarifas"

(Foto: Giuseppe Carotenuto)

Em Roma, Lula leva luta contra a fome à FAO e ao Papa e critica “guerra de tarifas”


Em discurso, presidente diz que fome é “irmã da guerra” e defende colocar “os pobres no orçamento”; em encontro inédito, convidou o Papa Leão XIV para a COP30 em Belém e discutiu a desigualdade.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu uma agenda intensa e de alto impacto diplomático em Roma, nesta segunda-feira (13), que uniu a política social, o diálogo inter-religioso e a geopolítica em torno de sua principal bandeira internacional: o combate à fome e à pobreza. Em um discurso contundente na Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e, horas depois, em seu primeiro encontro com o Papa Leão XIV no Vaticano, Lula apresentou a sua “doutrina” para a erradicação da fome, baseada na inclusão social como política de Estado e na reforma da arquitetura financeira global.

No palco da FAO: “a fome é irmã da guerra”

Na abertura do Fórum Mundial da Alimentação, Lula usou a tribuna para fazer uma forte defesa do multilateralismo e uma crítica contundente às nações ricas. Ele declarou que a fome se tornou um “sintoma do abandono” das instituições globais e que o acesso a alimentos continua sendo usado como um “recurso de poder”. Em seu pronunciamento mais forte, o presidente foi direto: “A fome é irmã da guerra. Seja ela travada com armas e bombas ou com tarifas e subsídios”, em uma clara alusão às políticas protecionistas que, segundo ele, desestruturam a produção agrícola no mundo em desenvolvimento e agravam a insegurança alimentar.

A credencial do Brasil: a saída do mapa da fome

Para dar peso e credibilidade à sua fala, a principal credencial apresentada por Lula foi o sucesso do Brasil. Ele celebrou a recente notícia de que o país, pela segunda vez, saiu do Mapa da Fome da ONU. “A gente tinha acabado com a fome em 2014. Voltei em 2023 e havia 33 milhões de pessoas dentro do Mapa da Fome. Agora, acabamos com ela outra vez em dois anos e meio”, destacou. Lula usou o dado para provar que a erradicação da fome não é uma utopia, mas uma meta alcançável com vontade política. “Em 2024, alcançamos a menor proporção de domicílios em situação de insegurança alimentar grave da nossa história”, afirmou.

A tese central: “colocar os pobres no orçamento”

A principal tese defendida por Lula em seu discurso foi a de que o combate à fome é uma escolha política que deve ser permanente. “É preciso colocar os pobres no orçamento e transformar esse objetivo em política de Estado. Não se trata de assistencialismo”, garantiu. Para o presidente, essa medida evita que os avanços sociais fiquem à mercê de crises econômicas ou de mudanças de governo. “Um país soberano é um país capaz de alimentar seu povo. A fome é inimiga da democracia e do pleno exercício da cidadania”, completou.

O encontro inédito no Vaticano

O ponto alto da agenda diplomática do dia foi o encontro com o Papa Leão XIV, o primeiro desde que o novo pontífice foi eleito em maio. Lula relatou ter tido uma conversa profunda sobre “religião, fé, o Brasil e os imensos desafios que temos que enfrentar no mundo”. O presidente parabenizou o Papa por sua recente exortação apostólica, que prega a união entre a fé e o amor pelos mais pobres, e afirmou que o documento é uma “referência que precisa ser lida e praticada por todos”.

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O convite para a COP30 e a futura visita ao Brasil

Durante a audiência no Vaticano, Lula aproveitou para convidar formalmente o Papa para a COP30, a cúpula do clima que acontecerá em Belém em novembro, “considerando a importância histórica de realizarmos uma Conferência do Clima pela primeira vez no coração da Amazônia”. Segundo o presidente, o pontífice não poderá comparecer devido às celebrações do Jubileu, mas garantiu o envio de uma representação de alto nível do Vaticano. Lula também revelou que o Papa manifestou a intenção de visitar o Brasil “no momento oportuno”.

A ferramenta política: a aliança global contra a fome

Além dos discursos, a viagem de Lula a Roma serviu para fortalecer o principal instrumento político do Brasil para a causa: a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Lançada durante a presidência brasileira no G20, a iniciativa já conta com 102 países e dezenas de organizações. Em Roma, Lula participou da segunda reunião do conselho da Aliança e inaugurou a sede de seu secretariado, que funcionará dentro do prédio da FAO, com escritórios de apoio em Brasília e outras capitais mundiais.

Os próximos passos da aliança global

A Aliança Global já tem um cronograma de ações definido. A iniciativa “Fast Track” está apoiando planos de combate à fome em países como Etiópia, Haiti e Zâmbia. Os primeiros resultados concretos e novos compromissos de financiamento deverão ser apresentados durante a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social da ONU, que ocorrerá em Doha, no Catar, em 3 de novembro. Este será o primeiro encontro de alto nível da Aliança e um teste de fogo para a sua eficácia.

Uma visão para o sul global

Ao final do dia, a mensagem de Lula em Roma se consolidou como uma visão para o Sul Global. Ele destacou o paradoxo da América Latina, que é um “celeiro do mundo” mas ainda convive com a fome, e o drama da África, que registra crescimento econômico ao mesmo tempo em que a insegurança alimentar aumenta. Para o presidente, a solução passa por uma reforma da arquitetura financeira internacional que direcione mais recursos para quem mais precisa. “Não basta produzir. É preciso distribuir”, concluiu.

Em Roma, Lula Leva Luta Contra a Fome à FAO e ao Papa e Critica "Guerra de Tarifas"
(Foto: Ricardo Stuckert)

Com informações de Agência Brasil


Alfredo R. Martins Jr. é jornalista e a voz principal do Jornal O Paranaense. Formado em Comunicação Social com especializações em Marketing e Gestão de Comunicação, possui mais de 17 anos de experiência na análise do cenário paranaense. Sua missão é traduzir a complexidade da política, economia e cultura do estado em informação clara, acessível e relevante para o leitor.
Alfredo R. Martins Jr.

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